quinta-feira, 1 de novembro de 2012

A Arte da Colagem

A colagem é conhecida como um procedimento artístico que consiste em unir pedaços de papel liso, estampado, pintado ou impresso (jornais, embalagens), cartão, tecido ou pequenos objetos sobre um suporte geralmente plano. Começou a ser praticada por diversos grupos de artistas plásticos a partir dos primeiros anos do século XX.



violao-1913-picasso






As naturezas mortas compostas de arranjos de vegetais em fruteiras ou cestos, vasos de flores e mesas de cozinha contendo ingredientes para a próxima refeição teve o ápice com as de Paul Cézanne na virada do século XIX para o XX e dão lugar a composições que substituem a Natureza por objetos da Cultura. No lugar de frutas e legumes, encontram-se garrafas, copos, instrumentos musicais, cartas de baralho, objetos igualmente cotidianos e banais, mas manufaturados, produtos da indústria e destinados ao uso após a refeição, simbolizada pela natureza morta. Agora o ambiente — de cafés ou bares retratados por pintores impressionistas — é deixado de lado, buscando-se o objeto, como antes se fazia com os produtos da terra.
Os cubistas são inovadores nestas composições que usam colagens. Recortam papéis no formato do objeto a ser retratado, como é o caso de Violão, de 1913, realizado por Picasso.
Picasso elabora diversas densidades de impressões — de padrão de papel de parede a letras de jornal cada vez menores, até chegar ao preto dominante sobre fundo azul. Impera o violão que vibra, como se tocasse música, mesmo sem cordas. As texturas não estão mais pintadas, apenas indicadas por colagem de papéis que substituem a tinta e imitam a textura e sua representação. Os elementos da colagem ocupam o lugar do desenho e da pintura na composição. Um aparente reverso está no óleo sobre tela Natureza morta com violão, de 1922, também de Picasso. A tela provoca o mesmo efeito anterior, mas desta vez a colagem não usa papéis recortados: os efeitos de vibração e de vida são produto de um jogo entre superfícies formadas a partir de seu preenchimento com cores mais ou menos quentes (amarelo – vermelho – azul), claras ou escuras (branco - cinza - preto), lisas ou grosseiramente listadas, multiplicando as cordas do violão.


Max Ernst .The Hat Makes the Man .1920 .Gouache and pencil on cut-and-pasted printed paper on board with ink inscriptions .14 x 18" (35.6 x 45.7 cm) .Purchase.© 2004 Artists Rights Society (ARS), New York / ADAGP, Paris.



Contudo, outras maneiras de fazer colagens se desenvolveram com experiências diferentes. Para Kurt Schwitters, em Hannover, cada bilhetete de bonde, cada envelope, papel de embrulhar queijo, anel de um charuto, solas de sapatos rasgadas, fitas, arames, penas, panos de chão, tudo o que tinha sido jogado fora, transforma-se em um item de uma colagem, disposto de forma a sugerir relações entre as partes. Não é o acaso que organiza papéis, bilhetes, cédulas,  embalagens, cartões e outras tantas substâncias descartadas: o acaso fez com que eles fossem encontrados por Schwitters e guardados em seu bolso do paletó. Seriam  objets trouvés, atualizados não só no conteúdo, mas como substância: de objetos a matérias primas. Com paciência, o exame minucioso dos papéis e outros materiais coletados possibilita descobrir associações imprevistas, sugerindo novos significados ao que já havia sido transformado em lixo. Não só cores e texturas, mas palavras, ou pedaços delas, imagens, recortes, fragmentos que compõem uma poética visual.
Uma terceira forma de colagem dadaísta, além daquela não figurativa de Arp e da que utiliza restos de papéis impressos, como a de Schwitters, é a que se utiliza  de figuras recortadas de revistas, catálogos, fotografias, gravuras e estampas, como faz Max Ernst. Uma das suas primeiras realizações foi Dada-Gauguin, de 1920, abordando o tema de homens-plantas, seres primordiais distanciados da civilização: pelo exotismo ele homenageia Gauguin e suas figuras humanas quase monocromáticas, incorporando cores taitianas. Imensos óvulos ou vaginas dentadas, um falo-cipó, o começo da humanidade e a pureza perigosa. Na colagem É o chapéu que faz o homem (o estilo é do alfaiate), também do mesmo ano, os homens são construídos por colunas de chapéus recortados de catálogos para venda. Dadamax zomba do ditado popular que enquadra qualquer um pelo estilo do chapéu usado: categorias sócio-econômicas visíveis pelo mais supérfulo e simbólico do respeitável vestuário masculino, o chapéu.


Dada-Gauguin - Max Ernst. Artist: Max Ernst. Completion Date: 1920


Essas duas colagens de 1920 escancaram o humor e a crítica de Ernst. Traduzem a técnica da colagem em procedimento que ultrapassa o recorte de figuras e da invenção de um novo arranjo. As associações produzidas são decorrentes do acaso, mas também resultado de muito estudo. Não há nada de fortuito neste procedimento, a não ser o de ter às mãos um catálogo de chapéus masculinos e daí resolver recortá-los para futura utilização. Depois disto, valem a experiência, a inspiração e a paciência.



Bibliografia:
ponto-e-vírgula | 2007 | PEPG Ciências Sociais-PUC-SP
wikipaintings.org

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